A suspeita de que uma criança possa estar sendo sexualmente abusada deve sempre ser investigada cuidadosamente, pois isto certamente vai afetar em muito a vida da criança e da família como um todo.
Observamos que a violência sexual contra a criança, infelizmente, ocorre em todos os grupos sociais e se caracteriza quando uma criança ou adolescente é usado como gratificação sexual por um adulto ou adolescente mais velho, através do uso da violência física, coação ou abuso da confiança.
Frequentemente, o agressor é um membro da família ou responsável pela criança, alguém que ela conhece, no qual confia e com quem, muitas vezes, tem uma estreita relação afetiva. Normalmente, este abuso fica cercado de um complô de silêncio, pois este é um ato que envolve medo, vergonha, culpa e desafia tabus culturais (a sexualidade, incluindo a da criança) e aspectos de interdependência.
O silêncio é uma tentativa de preservar a família, evitando se dar conta da contradição existente entre o papel de proteção esperado da família e a violência que nela se dá. Em muitos casos, o silêncio e a negação caminham juntos.
Quais são os comportamentos mais frequentemente observados em crianças que foram ou são abusadas sexualmente?
• Crianças extremamente submissas;
• Crianças extremamente agressivas e antissociais;
• Crianças pseudo-maduras;
• Crianças com brincadeiras sexuais persistentes, exageradas e inadequadas;
• Crianças que frequentemente chegam muito cedo à escola e dela saem tarde (num esforço inútil de escapar da situação do lar);
• Crianças com fraco ou nenhum relacionamento com seus pares e com imensa dificuldade de estabelecer vínculos de amizade e com falta de participação nas atividades escolares e sociais;
• Crianças com dificuldade de concentração na escola;
• Crianças com queda repentina no desempenho escolar;
• Crianças com total falta de confiança nas pessoas, em especial nas pessoas com autoridade;
• Crianças com medo de adultos do sexo oposto ao seu;
• Crianças com comportamento aparentemente sedutor com pessoas adultas do sexo oposto ao seu;
• Crianças que fogem de casa;
• Crianças com sérias alterações do sono (como em geral os abusos são feitos na cama, se estabelece o medo de dormir e sofrer o ataque);
• Crianças com depressão clínica;
• Crianças com ideias suicidas;
• Crianças com comportamentos de automutilação;
• Crianças com imensos sentimentos de culpa em relação a tudo.
Quando o abuso sexual é feito por meio do incesto, ele é bem mais profundo e traumático, pois de forma mais contundente ficam marcados o abandono e a traição, porque à criança foi negado um direito inerente: o amor e a confiança. As consequências disso são o emocional devastado, uma autoimagem destruída e uma profunda dificuldade em estabelecer relações de respeito, admiração e confiança no futuro com as pessoas.
Geralmente, os homens que cometem incestos tiveram uma infância marcada por privações emocionais sérias (causada por morte materna, doenças graves ou abandono de um ou de ambos os pais).
Crianças mais velhas são menos facilmente abusadas, pois são mais fortes, maiores e podem revelar ao mundo tais abusos. Pessoas que foram abusadas na infância chegam à idade adulta sem os benefícios da infância. Muitas delas se tornam mulheres que acabam por repetir o padrão de suas mães (casando com homens violentos e abusivos) e, em geral, se tornam pessoas cronicamente deprimidas.
As estratégias do abuso sexual de crianças podem ser divididas em cinco fases:
I). Fase do envolvimento;
II). Fase da interação sexual;
III). Fase do sigilo;
IV). Fase da revelação;
V). Fase da repressão.
O agressor, geralmente, faz com que a criança participe do abuso, fazendo-a acreditar que aquilo nada mais é do que um jogo divertido. Ele, frequentemente, sabe o que agrada as crianças e as recompensa ou suborna.
Em muitos casos, o agressor abusa sexualmente da criança a fim de satisfazer necessidades não sexuais suas, tais como: desejo de sentir importante, poderoso, dominador, admirado e desejado.
Infelizmente, na maioria das vezes, a criança guarda segredo de tais abusos. E o agressor consegue dela isso, usando das seguintes estratégias:
• Mencionando a irritação de outra pessoa (se você contar isso à mamãe, ela vai ficar muito irritada ou brava com você);
• Mencionando a separação (se você contar isso para alguém vão te mandar embora de casa);
• Mencionando o auto prejuízo (se você contar isso a alguém eu vou te matar);
• Mencionando fazer mal a alguém (se você contar isso eu mato a sua mãe).
A revelação do abuso pode acontecer acidental ou propositadamente. De uma forma ou de outra, representa o fim de um calvário para a vítima e uma possível punição para o agressor.
Crianças abusadas sexualmente, em especial as menores, não entendem o que de verdade está acontecendo e ficam sem saber COMO reagir nem SE DEVEM reagir. Em geral, elas fingem ignorar o fato e sofrem, muitas vezes, anos caladas. E lamentavelmente, quando o fato é revelado, muitas ainda têm que enfrentar o descrédito da própria família e da sociedade, o que as dilacera ainda mais por dentro.
Um abraço para todos.
Ana Brocanelo – Advogada.
OAB/SP:176.438 | OAB/ES: 23.075
Fonte: EBC – Empresa Brasil de Comunicação – Papo de Mãe. “17 sintomas indicam que a criança é vítima de abuso sexual“. Por Solange Melo. CC BY-ND 3.0 BR.