Enquanto algumas crianças podem ter a sorte de enfrentar o divórcio dos pais e sairem relativamente ilesas, a maioria apresentará algum sofrimento a curto prazo, se não a longo prazo.
Em um processo de divórcio, por mais amigável que seja, os pais e as mães, em meio aos seus problemas, acabam deixando de lado o quão central sua família era para o senso de estabilidade e até mesmo identidade parental. Dependendo de suas idades, as crianças precisam desenvolver autonomia, independência e o discernimento sobre a segurança que seus pais transmitem nesses momentos, ou seja, todas as suas referências estão fortemente centradas na família. Quando essa estrutura é quebrada, o mundo deles desmorona.
É importante ressaltar que as sugestões que faço aqui referem-se às separações (relativamente) amigáveis, em que os pais têm em mente os melhores interesses de seus filhos. Acredito que estes conselhos terão pouco efeito para melhorar uma separação conflituosa, em que um ou ambos os pais querem destruir o outro.
• Menores de cinco anos:
Crianças muito pequenas (com menos de cinco anos) têm uma compreensão limitada dos relacionamentos. O que eles vão notar é que papai vai embora e não volta por um longo período de tempo. A principal questão a ser trabalhada nessas crianças é a ansiedade de separação.
Explique a situação nos termos mais simples possíveis: “Mamãe e papai estão morando em duas casas diferentes agora. Uma semana você vai morar com a mamãe e na outra com o papai, mas você pode ligar para (o outro pai) todos os dias. Nós continuaremos te amando para sempre“. Manter regras e expectativas consistentes entre os lares deve proporcionar alguma sensação de estabilidade e familiaridade.
• Crianças em idade escolar primária:
Crianças em idade escolar primária são extremamente egocêntricas e podem acreditar que um resultado ruim foi causado por elas (eu não limpei meu quarto, então agora mamãe está me deixando). Por mais irracional que isso possa parecer para um adulto, esse estilo de pensamento é completamente normal para uma criança dessa idade. Antecipe-se a isso explicando muito claramente que sua separação não tem nada a ver com a criança e você sempre estará lá para ela.
• Adolescentes:
Tanto as crianças da escola primária quanto os adolescentes podem ser preto e branco em seu pensamento e podem colocar cada pai em um papel bom versus ruim – isso pode ser difícil de superar e pode levar tempo para resolver.
Embora você deva evitar envolver crianças de qualquer idade nos “porquês” específicos por trás de seu divórcio, com adolescentes maduros isso pode ser difícil se houver uma razão conhecida por todos, como por exemplo: uma infidelidade de um ou outro pai.
Nesse caso, o melhor que você pode fazer é evitar demonizar o outro progenitor e sugerir aos filhos mais velhos que discutam diretamente com eles quaisquer preocupações que tenham sobre o comportamento do pai ou da mãe. Há pouco sentido em evitar perguntas com chavões ineficazes como “você vai entender quando for mais velho”. Mantenha os detalhes do seu conflito em sigilo, mas seja direto ao responder às perguntas que eles têm sobre você, sua conduta pessoal e seus planos para o futuro.
Lembre-se sempre, se você começar condenar e depreciar o outro pai – você está efetivamente criticando 50% do DNA de seu filho e está pedindo que escolham um lado entre duas pessoas que amam. Isso só servirá para causar mais danos ao seu filho.
Adolescentes mais velhos podem ter algumas opiniões fortes sobre seus arranjos de vida e podem não estar inclinados a obedecer educadamente a modelos de cuidados compartilhados ou mesmo ordens de tribunais de família. Ouça as suas preocupações (que muito provavelmente estão centradas no acesso a amigos, atividades escolares / esportivas) e seja sensível e flexível. Você e seu ex estão virando suas vidas de cabeça para baixo e eles podem ficar bastante irritados com isso, então prepare-se para um resultado parental que pode não ser o ideal para você.
• Responsabilidade parental:
Independentemente da idade, tente ser consistente como pai e como mãe. Assuma a responsabilidade pessoal de cumprir todas as suas garantias e promessas.
Evite introduzir mais “disruptores” na cena. Leva meses a anos para as crianças processarem e se sentirem seguras em sua nova estrutura familiar. Introduzir um novo namorado / namorada nessa mistura logo após essa reviravolta ou se envolver em mudanças radicais no estilo de vida é, na melhor das hipóteses, altamente insensível.
Entenda que seu desejo de seguir em frente e se reinventar pode não ser apreciado por crianças que precisam de tempo para lamentar a perda de sua unidade familiar e se adaptar à sua nova situação.
Um abraço para todos.
Ana Brocanelo – Advogada.
OAB/SP:176.438
Fonte: The Conversation. “Como dizer ao seu filho que você está se divorciando“. Texto editado. Publicado sob licença CC BY 4.0.