Muitas crianças conseguem se ajustar bem ao divórcio dos pais, pelo menos a longo prazo, mas uma grande parte de filhos de pais separados tem problemas de longo prazo, que os afetam durante a infância e também na vida adulta. O fator não é o divórcio em si, mas sim o conflito que ele gera entre os pais.
Cerca de 50.000 a 60.000 crianças passarão pelo divórcio de seus pais a cada ano e, para uma em cada cinco crianças, a separação ocorrerá antes de completarem 18 anos.
Imediatamente antes e depois do divórcio dos pais, as crianças sentem muito a separação, porém, para a maioria delas, o ajuste melhora ao longo do próximo ano ou dois. Em média, os filhos de pais separados têm o rendimento escolar comprometido, têm um pouco mais de problemas de comportamento e são um pouco mais propensos a sofrer de ansiedade e depressão.
• Testemunhando o conflito:
O mais forte preditor de mau ajustamento infantil após a separação é o conflito entre os pais divorciados. A longo prazo, os problemas começam a ocorrer para as crianças quando o conflito parental é grave, frequente e quando ocorre na frente da criança (abusos verbais, relacionamentos abusivos ou violência física são exemplos).
As crianças são particularmente afetadas quando o conflito é sobre elas ou questões relacionadas à parentalidade. Muitas crianças se culpam pelo conflito e divórcio dos pais, ou seja, as crianças acreditam que causaram o conflito, ou que deveriam ser capazes de acabar com ele. Desta forma, passam por vários problemas de adaptação.
O conflito parental grave na frente dos filhos também está associado a problemas de adaptação infantil em famílias intactas. Em relacionamentos parentais de alto conflito, a separação, às vezes, reduz a exposição das crianças ao conflito parental. Portanto, permanecer em um relacionamento não necessariamente protege as crianças das brigas e divergências dos pais.
• Convivência após o divórcio:
Quando os pais se separam, deve haver um acordo sobre como as crianças serão cuidadas e educadas. Os acordos devem abordar questões sobre onde a criança vai morar, quanto tempo cada pai passará com a criança e como e onde os pais comunicarão sobre as suas decisões, etc.
Cerca de 30% dos pais divorciados chegam a um acordo de convivência pacífico. Outros 30% negociam um acordo aceitável para ambos, mas cerca de 40% dos pais separados discordam sobre os arranjos parentais que não conseguem resolver.
Uma das ferramentas para a resolução de conflitos diante do divórcio é a Mediação Familiar. A Mediação Familiar geralmente envolve quatro ou cinco horas de sessões com um mediador profissional. Normalmente, o mediador realiza uma entrevista individual separada com cada pai para avaliar o histórico familiar e identificar as questões atuais de disputa em torno do divórcio, guarda dos filhos, pensão alimentícia, etc. Também pode haver uma sessão conversando com a criança ou crianças perguntando-lhes suas opiniões. Em seguida, ocorre uma sessão conjunta entre o mediador e os dois pais.
Dos pais separados que realizam a mediação, cerca de dois terços chegam a um acordo. O terço restante geralmente vai ao Tribunal de Família para que um juiz determine quais serão os arranjos parentais.
Como a maioria dos pais perceberá, os arranjos parentais precisam mudar à medida que as circunstâncias das crianças mudam. Os acordos parentais precisam permitir a tomada de decisões à medida que surgem novas circunstâncias e devem ser renegociados ao longo do tempo. Por exemplo, uma criança que costuma passar os fins de semana com a mãe pode se interessar por um esporte de fim de semana que ocorre perto da casa do pai, e a criança pode querer mudar de lugar onde passa os fins de semana.
Desenvolver a co-parentalidade colaborativa pode ser um desafio para pais separados. Se os pais separados permitem que o conflito ocorra na frente de seus filhos, os filhos sofrem. Se os pais conseguirem ser mutuamente respeitosos e manter os melhores interesses de seus filhos como foco compartilhado, é provável que a criança se saia bem.
Um abraço para todos.
Ana Brocanelo – Advogada.
OAB/SP:176.438
Fonte: The Conversation. “Como meu divórcio afetará meus filhos?“. Texto editado. Publicado sob licença CC BY 4.0.