Todos os dias, Maya Carvalho, 16 anos, dorme e acorda com um beijo do pai, o engenheiro Marco Augusto Alves de Oliveira, 44 anos. Nem sempre foi assim. Filha de pais separados, ela morou com a mãe até 2012, quando escolheu mudar de casa. Em plena adolescência, Maya contou com a companhia do pai na primeira consulta ao ginecologista. E foi ele que fez questão de conhecer o autor da primeira carta de amor recebida pela filha, embora a apresentação nunca tenha ocorrido. “Eu amo meu pai, ele é o pai mais diferente que eu já vi. É uma mãe exemplar”, brinca Maya.
Casos como o de Maya e Marco Augusto não são regra. Apesar de não haver um levantamento oficial de quantos pais detêm a guarda total ou compartilhada dos filhos, a Associação de Pais e Mães Separados (Apase) estima que eles sejam minoria, cerca de 20% dos casos de separação.
“Quando me separei, tinha a preocupação de não deixar de existir para a minha filha. Por isso, no dia do pagamento da pensão, eu colocava junto alguma roupa, uma foto, um brinquedo ou balinha”, recorda.
Oliveira conta que teve que se “reinventar” para criar uma filha mulher – ele é o mais novo de quatro irmãos. “O grande ganho é aprender a conhecer o universo feminino como pai, e não como marido ou namorado. Quero educar a minha filha para ser independente de tudo e de todos”.
Na mesma casa, uma história semelhante. Marco Venício Alves de Oliveira, 48 anos, um dos irmãos de Marco Augusto, mora com o filho, Vitor Luz, 12 anos. A escolha de morar com o pai, partiu de Vitor. “Ele veio de férias. Quando terminou as férias, pediu para ficar mais uma semana. Quando terminou essa semana, pediu mais uma, e foi ficando”, diz Venício.
Embora estivesse presente na criação, ele confessa que sempre achou uma grande responsabilidade ter a guarda do filho, por isso nunca insistiu. “Como a decisão partiu dele, eu tive que assumir”, diz, contente. “Eu acho que para o desenvolvimento deles é importantíssimo que o pai esteja presente. É fundamental que o pai e a mãe assumam. Os filhos são a parte mais importante”, acrescenta. Vítor descreve o pai em uma única palavra: amigo.
Muitas vezes, a decisão de se afastar dos filhos não depende dos pais. A Apase cita a alienação parental – quando um genitor faz a criança rejeitar o outro – como um dos maiores problemas após a separação.
“Pela legislação vigente é preciso ter consenso para que o juiz conceda a guarda compartilhada. Isso é uma grande piada. Existem genitores que criam litígio para não compartilhar a guarda da criança”, explica o presidente da Apase, Analdino Rodrigues Paulino.
Paulino lutou seis anos na Justiça pela guarda compartilhada da filha Amanda, de 16 anos. Hoje, ele, que mora na cidade de São Paulo, passa uma semana por mês com a filha, em Goiânia (GO). Por ela, até fez as pazes com a mãe. “Estava perto do Natal e eu perguntei o que ela queria ganhar. Ela me respondeu que queria um presente que não me custaria nenhum centavo e pediu que fizéssemos as pazes”, recorda Paulino.
A socióloga e coordenadora do Instituto Papai, organização não governamental (ONG) pernambucana que defende direitos igualitários para homens e mulheres, Mariana Azevedo, diz que a paternidade tem sido uma questão muito debatida na sociedade, embora ainda persista o modelo antigo de que o pai é o provedor e a mãe, a cuidadora.
“Quando a gente vê pais que cuidam ativamente, chamamos de pãe ou dizemos que é como se fosse uma mãe. Ainda há a ideia de que mãe é quem cuida e o pai se encarrega de dar ordem”, diz Mariana. “A gente acredita que não há essa diferença e que ambos devem compartilhar a criação dos filhos. Isso é uma experiência benéfica e transformadora para toda a família”, analisa a socióloga.
Um abraço para todos.
Ana Brocanelo – Advogada.
OAB/SP:176.438 | OAB/ES: 23.075
Fonte: EBC – Empresa Brasil de Comunicação. “Conheça histórias de filhos que escolheram morar com o pai”. Por Mariana Tokarnia. https://bit.ly/2wB3yA1