Entre a postura de vilã, apresentada em grande parte das fábulas, contos de fadas e histórias de princesas que permeiam a literatura infantil, e o real papel da madrasta no dia a dia da sociedade existe uma grande diferença. Cada vez mais comum na formação das chamadas novas famílias, as mulheres têm assumido a nem sempre fácil tarefa de conviver com os filhos de seus companheiros.
Ser madrasta é contar com desconfiança desfavorável. Ser madrasta é remar contra a corrente para merecer credibilidade. É ter medo do futuro, de não saber se nosso amor seguirá sendo correspondido. E mesmo assim seguir amando. É preciso ter força, ter maturidade.
Para ser madrasta é necessário lidar com o sentimento de dicotomia: a mulher tanto pode encarar bem a convivência da criança com o pai ou pode sofrer. Seja por não ser a primeira a dar um filho para o homem que ama ou, por vezes, não suportar ver enteados com hábitos da ex-mulher do atual companheiro. Definitivamente, é muito difícil.
• Ciúme dos enteados:
Um dos pontos mais importantes da relação madrasta-enteado é o ciúme. Ciúme é um sentimento que não se controla e, para conviver com ele, a madrasta tem que se policiar. Ser racional e lutar contra os pensamentos absurdos que aparecem. Se a criança não sai do colo do pai, basta lembrar como foi sua própria infância. A madrasta deve questionar se ela mesma teve um pai presente. Se teve, foi muito bom, guarda boas lembranças e deve desejar essa mesma experiência para os enteados. Se não teve um pai presente, a madrasta sabe que ficou um vazio e deve vibrar pelo fato seu companheiro ser um bom pai.
• Ser madrasta sem pesadelo:
Para as mulheres que tremem só de pensar em precisar encarar os filhos do marido – e tudo o que vem com o ‘pacote’, como a convivência com a ex-mulher, os valores e educação distintos etc – é necessário o sentimento de compartilhamento. Principalmente quando há guarda compartilhada e o filho do marido estará com frequência na casa.
Há grupos de discussão e apoio nas redes sociais, nos quais é possível debater as experiências de madrasta. Ao trocar experiências, a mulher sente-se menos culpada com os ciúmes ou mesmo uma sensação natural de rejeição aos enteados. O peso em cima do arquétipo da madrasta é muito grande. É preciso aliviar este peso.
Existem alguns comportamentos básicos a serem colocados em prática na convivência com os filhos do companheiro:
– Controlar o ciúme;
– Aceitar a diferença de educação, mas deixar claro à criança quais são as regras na sua casa;
– Nunca discutir com o companheiro na frente da criança;
– Nunca falar mal da mãe na frente da criança;
– Sempre que for discutir com o marido sobre problemas com os filhos dele, esteja calma e tente usar a razão;
– Trate sempre as crianças com afeto, mesmo quando eles não estão se comportando como deveriam. Lembre-se que crianças testam autoridade e o equilíbrio emocional dos adultos.
• Famílias mosaico e a madrasta:
As relações surgidas com o novo casal, que já tem filhos do primeiro casamento do marido e às quais se juntam filhos, enteados, irmãos, madrasta, padrasto, ex-esposo, ex-esposa e avós, são chamadas de família mosaico ou reconstituídas. As famílias reconstituídas são cada vez mais frequentes. A madrasta tem sido peça-chave na formação deste tipo de família plural e é preciso conviver com essa realidade cada vez mais próxima.
Um abraço para todos.
Ana Brocanelo – Advogada.
OAB/SP:176.438
Fonte: A Revista da Mulher. “Virei madrasta. E agora?” Texto editado. CC BY 3.0 BR.