“O ódio tem muito em comum com o amor, principalmente com aquele aspecto autotranscendente do amor, a fixação sobre os outros, a dependência deles e, na verdade, a entrega de uma parte da própria identidade a eles. Aquele que odeia anseia pelo objeto do seu ódio.” Václav Havel.
Existem muitas pessoas que têm dificuldades em manter certa estabilidade em suas profissões quando estão caminhando em um delicado trecho de suas vidas, o processo do divórcio. Mesmo aquele que pede a separação, encontra muitas dificuldades nessa hora, afinal, o divórcio é o luto de um projeto de vida. Ambas as partes, por mais magoadas, enraivecidas ou até mesmo conformadas que estejam diante dessa situação, acabam tendo que rever muito de seus valores, muito das suas próprias limitações.
Além dos fatores práticos que envolvem todo esse momento, como por exemplo, a partilha de bens, guarda de filhos e alteração da rotina, associa-se também um sentimento de fracasso que afeta diretamente a autoestima dos envolvidos. Esse pode ser um período de renascimento, de reorganização de identidade.
Infelizmente, muitos bloqueiam esse período de reorganização, não analisam as novas possibilidades que se abrem, mas agarram-se a sentimentos antigos, mascaram suas reais emoções com descargas de ódio, falando mal do parceiro, repudiando a sua existência, usando os filhos como armas (Alienação Parental), a família e os amigos como convidados de um espetáculo enfadonho e desgastante.
Um outro recurso para aliviar a própria tensão são as intermináveis ações judiciais. O fato é que isso não resolve o problema, apenas o prolonga e impossibilita que ambos resolvam e reorganizem as suas vidas rumo à conquista do reequilíbrio e da felicidade. Algumas vezes as marcas são tão profundas, que alguns optam por jamais se envolver novamente com alguém, fecham-se feitos ostras!
Sim, o processo de separação é dolorido, triste e amargo. Quem fica feliz com projetos de vida que não dão certo? Mas é um processo, uma alteração de vida e como tal, cabe a cada pessoa escolher se passará por ele ou se ficará preso a ele. Através de situações como essas, podemos também avaliar que tipo de profissionais somos no mercado, pois dificilmente seremos muito diferentes em nosso ambiente de trabalho daquilo que somos na intimidade. Se não conseguimos dar o passo seguinte em nossas vidas pessoais, podemos ser uma grande ameaça aos nossos grupos profissionais, um vetor de desencontros.
A escritora e editora Connie Zweig faz uma analogia interessante: “Qualquer relacionamento íntimo pode servir como excelente veículo para o trabalho com a sombra, no qual o fogo do amor pode se alastrar pelos lugares imobilizados, iluminar os desvãos escuros e nos apresentar a nós mesmos.” Assim, podemos aprender com o divórcio, com a demissão ou com os rompimentos de um modo geral, que a tristeza e o abandono podem ser bons adubos para o nosso encontro com nós mesmos, como o nosso próprio germinar.
Nessa dança de anjos e demônios íntimos, podemos sair melhores do que entramos, a opção é individual e intransferível. Pense nisso.
Um abraço para todos.
Ana Brocanelo – Advogada.
OAB/SP:176.438 | OAB/ES: 23.075
Fonte: Psicologia.PT. “Divórcio X desequilíbrio profissional“. Por Lígia Guerra. CC BY-ND 4.0.