Ana Brocanelo

Feminicídio – Ser mulher é estar em risco.

Precisamos falar sobre gênero, sobre as relações profundamente desiguais de poder entre homens e mulheres. Entenda o que é o crime de Feminicídio e a necessidade de equidade de gênero.

No Brasil, desde 2015, uma lei penal pune o crime de feminicídio, que consiste em matar “a mulher por razões da condição de sexo feminino”. Feminicídio é o assassinato de uma mulher pela condição de ser mulher. Suas motivações mais usuais são o ódio, o desprezo ou o sentimento de perda do controle e da propriedade sobre as mulheres, comuns em sociedades marcadas pela associação de papéis discriminatórios ao feminino, como é o caso brasileiro.

 

Segundo o Código Penal, há razões da condição de sexo feminino “quando o crime envolve violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher”. É feminicídio não apenas o caso em que vítima e seu algoz mantiveram alguma relação afetiva, mas também quando os fatos criminosos evidentemente demonstram que a “condição” de mulher foi decisiva para seu cometimento. Ser mulher é, infelizmente, estar constantemente sob o risco de sofrer violências, por toda a vida, desde criança até idosa, em todas as classes sociais e em todas as raças.

 

Atualmente, cifras assustadoras (e vergonhosas) apontam o Brasil como o quinto país do mundo que mais mata as suas mulheres. E, por isso, precisamos falar sobre gênero, sobre as relações profundamente desiguais de poder entre homens e mulheres. Afinal, o que faz um homem acreditar que ele pode eliminar a vida de uma mulher quando ela se recusa a manter relação sexual com ele (ou quando se recusa a um beijo, ou a um abraço, ou a qualquer ato lascivo) ou quando ela se recusa a permanecer no relacionamento (aqui, a famosa frase “se não for minha, não vai ser de mais ninguém”)?

 

Incentiva-se que meninos, desde muito cedo, sejam agressivos e que mostrem que são homens (“homem não chora”, “homem não leva desaforo para casa”, “vira homem!”). Na adolescência, ou mesmo antes dela, meninos são encorajados, e até mesmo obrigados, a mostrarem toda sua virilidade (“já tem namorada?”, “pegou quantas?”, “esse vai ser um garanhão!”). Além dos comentários mais “inocentes” de familiares e amigos, ainda temos que nos atentar para publicidades que reforçam os estereótipos de gênero, mostrando a mulher como um corpo a ser consumido, em última análise, uma coisa. E se as mulheres são apresentadas a todo tempo como coisas (umas mais valiosas, outras menos), a partir do momento em que não servem mais, podem ser descartadas.

 

Por outro lado, paremos de julgar a vítima mulher. Afinal, a culpa pela morte da mulher não é da “saia curta”, ou do seu “belo corpo”, ou porque ela estava “andando sozinha na rua”. Ela foi morta porque existe uma cultura machista que legitima a posição de superioridade de homens, perpetuando relações violentas entre os sexos.

 

Não se trata de negar as diferenças entre homens e mulheres, mas de afastar as ditas “masculinidades tóxicas”, a busca para se provar “macho” a todo momento – estimulando violência, fechamento emocional, homofobia e obsessão com dinheiro, sexo e poder.

 

Precisamos urgentemente de um movimento consciente de toda a sociedade (homens e mulheres) para a educação de meninos e meninas, ensinando e mostrando, no dia a dia, que têm os mesmos direitos e oportunidades (equidade de gênero) e que merecem respeito. Somente através da educação, nas famílias, nas escolas, nos meios de comunicação, que poderemos mudar esta cultura tão nefasta que adoece todo o corpo social, e causa tanta indignação, frustração, impotência, tristeza e sofrimento.

 

 

Um abraço para todos.

Ana Brocanelo – Advogada.

OAB/SP:176.438

Fonte: Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios – TJDFT. “Ser mulher é estar sob risco“. Por Fabriziane Zapata. Texto editado. CC BY 4.0 BR.

Mais Posts

Informalidade nos Casamentos Ainda é uma Constante

Muitos casais ainda optam pela informalidade nas uniões. Porém, a regularização do casamento ou da união estável é essencial para garantir direitos, especialmente em questões patrimoniais e de sucessão. Entenda seus direitos e evite complicações no futuro!

Guarda Compartilhada: De quem é a Palavra Final em Casos de Impasse?

A guarda compartilhada é uma realidade cada vez mais comum entre famílias que passam pelo divórcio ou separação, mas muitas dúvidas ainda surgem sobre como funciona na prática. Quem toma as decisões finais sobre a vida da criança? O que acontece quando os pais não chegam a um consenso?

Quais despesas entram na pensão alimentícia?

Pensão alimentícia: mais do que um valor. Além das despesas básicas, como escola e saúde, outras como passeios e roupas também devem ser consideradas. A moradia também influencia no cálculo. Quer saber mais? Leia o artigo na íntegra.

Mãos de idoso sendo apoiada por mãos de jovem

Avós podem pedir alimentos aos netos?

Você sabia que, em casos excepcionais, avós podem solicitar pensão alimentícia de seus netos? Descubra quando e como isso é possível, e quais são os fatores que influenciam o processo de solicitação.

Deixe sua mensagem