Ana Brocanelo

Guarda e pensão alimentícia no processo de divórcio dos pais de crianças com o TEA.

O Divórcio, em si, já é um rito que gera frustrações, angústias e receios, especialmente quando envolve crianças. A nova realidade imposta a todos pode vir a ser um problema para crianças com TEA, o que exige atenção e cuidados redobrados. Entenda...

No Brasil, estima-se que exista cerca de dois milhões de crianças com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e uma das questões que pouco se vê em debate é como conduzir o divórcio dos pais de crianças com TEA.

 

O Divórcio, em si, já é um rito que gera frustrações, angústias e receios, especialmente quando envolve crianças. A nova realidade imposta a todos pode vir a ser um problema para crianças com TEA, o que exige atenção e cuidados redobrados.

 

Toda criança ou adolescente que passa pelo processo de separação dos pais, querendo ou não, tem um novo processo de readaptação. No caso da criança com o Espectro Autista, é preciso ter sensibilidade e cuidados ao limites em que essa criança seja apresentada nesta readaptação. O processo dessa nova configuração familiar, após o Divórcio, tem que ser visto como uma construção, colocando como prioridade o respeito à criança, sempre pensando na regulamentação de convivência baseada nos interesses das crianças. É muito importante contar com um apoio profissional nessas horas para que todos os lados sejam trabalhados e o ambiente fique o mais saudável possível.

 

Quando existem filhos na relação, é definida a guarda que pode ser Unilateral, onde a criança fica com um dos genitores e a Guarda Compartilhada, onde se divide por completo as responsabilidades e inclusive, as rotinas das duas novas casas, na qual a criança varia de lar, ficando com um dos genitores. No caso das crianças com TEA, a condição precisa ser conferida individualmente, já que a Guarda Compartilhada é a regra dos tribunais, mas a regulamentação de convivência é baseada, prioritariamente, no melhor interesse da criança.

 

No contexto do autismo, a separação vai exigir dos pais uma responsabilidade maior no que diz respeito às necessidades da criança, por isso mesmo é importante que esse conflito seja resolvido da melhor maneira possível. Hoje, as leis que regem o Divórcio procuram priorizar, principalmente, os direitos da criança, seja nas questões de Pensão Alimentícia e até mesmo nas questões psicológicas. Quando conseguimos mediar um acordo entre esses pais, a opção da Guarda Compartilhada é priorizada, uma vez que os dois têm direitos e responsabilidades junto a essa criança. Agora, quando não conseguimos um acordo ou os pais possuem uma relação conflituosa, para não colocarmos a integridade dessa criança em risco, a lei sugere que a guarda unilateral seja estabelecida, deixando-a no ambiente mais saudável e favorável para o seu desenvolvimento.

 

Para as crianças com Espectro Autista, a necessidade de uma rotina inalterada pode ser essencial para a sua qualidade de vida, pois a simples quebra deste cotidiano pode acarretar em efeitos prejudiciais à interação social e aumento do seu isolamento. Para isso, é essencial que os pais busquem profissionais com experiência específica sobre o tema, visando auxiliar na construção da nova rotina e de hábitos saudáveis ao desenvolvimento da criança com TEA.

 

O mais comum na questão do Divórcio do casal, tendo em vista as limitações e dificuldades da criança, são as saídas de lazer, já que a condição de TEA implica também na socialização da criança com outros, de modo geral. A separação é algo muito comum hoje em dia nas famílias, porém nas famílias em que se tem uma criança autista envolvida, é preciso ter um cuidado durante esse processo para que não haja prejuízos psicológicos. Se o casal já possui uma rotina com esse filho, é muito importante que ela seja mantida: os locais de passeio, a casa que mora, tudo isso para que essa mudança não seja um fator que possa gerar prejuízos futuros na socialização dela.

 

Mesmo com a Guarda Compartilhada sendo a opção mais indicada, por vezes ela pode gerar a não adaptação da criança à nova rotina e os desafios diários como a questão dos acompanhamentos multidisciplinares que são rotina de quem tem TEA. Para que esse processo de adaptação à nova vida familiar dos pais seja feito da melhor forma, além do acompanhamento profissional qualificado, a família encontre em conjunto uma rotina que se adeque às necessidades da criança. A guarda deve ser pautada na responsabilidade, cuidado e no respeito às peculiaridades dessa criança e do adolescente.

 

Quando tratamos de crianças e adolescentes com necessidades especiais – e uma das possibilidades é o Espectro do Autismo – as especificidades dessa criança devem ser consideradas e preservadas. É sabido que a rotina deve ser mantida, definir quais são os dias que a criança vai estar com cada genitor, qual vai ser o domicílio fixado como residência para essa criança ou adolescente. A partir daí, essa transformação que naturalmente vai acontecer em razão da separação entre o casal e isso passa a ser sentido de uma forma mais leve.

 

A fixação da Pensão Alimentícia também precisa levar em conta a rotina de tratamento dessa criança. A Pensão Alimentícia deve atender aos interesses das crianças e adolescentes, diante da possibilidade de quem paga, e não na proporcionalidade entre o que se paga e o que se recebe. Caso essa criança ou adolescente tenha necessidades de receber tratamentos extras, como por exemplo, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, etc., isso implicará em uma necessidade orçamentária maior para a manutenção dessa criança. Então a Pensão Alimentícia pode sim ser em valor maior em razão dessa necessidade.

 

 

Um abraço para todos.

Ana Brocanelo – Advogada.

OAB/SP:176.438

Fonte: Defensoria Pública do Estado do Ceará. “Crianças com TEA: um debate sobre guarda e os cuidados no processo de separação dos pais“. Publicado sob licença CC BY 4.0.

Mais Posts

Informalidade nos Casamentos Ainda é uma Constante

Muitos casais ainda optam pela informalidade nas uniões. Porém, a regularização do casamento ou da união estável é essencial para garantir direitos, especialmente em questões patrimoniais e de sucessão. Entenda seus direitos e evite complicações no futuro!

Guarda Compartilhada: De quem é a Palavra Final em Casos de Impasse?

A guarda compartilhada é uma realidade cada vez mais comum entre famílias que passam pelo divórcio ou separação, mas muitas dúvidas ainda surgem sobre como funciona na prática. Quem toma as decisões finais sobre a vida da criança? O que acontece quando os pais não chegam a um consenso?

Quais despesas entram na pensão alimentícia?

Pensão alimentícia: mais do que um valor. Além das despesas básicas, como escola e saúde, outras como passeios e roupas também devem ser consideradas. A moradia também influencia no cálculo. Quer saber mais? Leia o artigo na íntegra.

Mãos de idoso sendo apoiada por mãos de jovem

Avós podem pedir alimentos aos netos?

Você sabia que, em casos excepcionais, avós podem solicitar pensão alimentícia de seus netos? Descubra quando e como isso é possível, e quais são os fatores que influenciam o processo de solicitação.

Deixe sua mensagem