Ana Brocanelo

Vincular a maternidade ao Estado Civil pode ser depreciativo para as mulheres?

Assumir a maternidade de forma autônoma é um desafio que milhares de mulheres enfrentam em todo o mundo. Conhecidas como “mães solteiras”, as mulheres lutam para mudar o termo, que carrega concepções depreciativas, já que, para ser mãe, não é preciso necessariamente ter um companheiro.

Assumir a maternidade de forma autônoma é um desafio que milhares de mulheres enfrentam em todo o mundo. Conhecidas como “mães solteiras”, as mulheres lutam para mudar o termo, que carrega concepções depreciativas, já que, para ser mãe, não é preciso necessariamente ter um companheiro.

 

Essa realidade vem se contrapondo ao que a sociedade atribui, historicamente, como papel da mulher, que é o de cuidar do lar e do filho. Esse comportamento cabia dentro de um modelo tradicional de família, construindo a ideia de que, para ser mãe, é preciso estar casada ou ter um companheiro.

 

O termo “mãe solteira” se popularizou ao longo dos anos para designar essas mulheres que criam seus filhos sozinhas. A maternidade não está relacionada com o estado civil da mulher. É interessante pensar nisso, porque parece que essa mulher não poderia ser mãe se não fosse dentro de um casamento.

 

O termo “mãe solo” surgiu, então, como uma tentativa de desvincular a maternidade com o estado civil da mulher. O termo acolhe essas mães que, sozinhas, seja por opção ou por abandono paterno, assumem o compromisso de criar e educar seus filhos, em um caminho cheio de desafios, que vai do julgamento da sociedade às dificuldades financeiras e psicológicas.

 

 

• As dificuldades da maternidade autônoma:

 

Na rotina da mãe que cria os filhos e filhas sozinha nem tudo são flores. Nós temos que pensar como o ser mãe solo envolve um esforço, um trabalho muito grande dessas mulheres. Sem a presença de um companheiro, toda a responsabilidade da criação de um filho fica destinada à mãe. Além da necessidade de trabalhar para sustentar sua família, a mulher precisa cuidar da sua casa, da alimentação, da educação e de todas as tarefas relacionadas à vida doméstica.

 

Para além dos desafios no cotidiano, a mulher que assume a maternidade sozinha sofre um julgamento por parte da sociedade, ainda muito vinculada a valores patriarcais e machistas. Esse julgamento faz com que ela se sinta discriminada, abandonada e sozinha. Então, essa mulher vai ter que lidar também com a sua saúde mental.

 

Essa sobrecarga da mãe solo pode levar a mulher ao limite do estresse, ocasionando uma exaustão tanto mental quanto física. Não ter alguém para dividir os problemas, dialogar ou receber apoio faz com que a jornada dessa mulher seja solitária. Muitas vezes, o lazer é deixado completamente de lado, deixando-a imersa no universo da maternidade e esquecendo da sua individualidade e felicidade como mulher.

 

 

• Tendência de crescimento no número de mães solo:

 

Apesar das dificuldades que as mulheres enfrentam nessa jornada, os dados indicam uma crescente no número de crianças registradas sem o nome do pai. O Portal da Transparência do Registro Civil mostrou que, nos primeiros sete meses de 2022, mais de 100 mil crianças foram registradas apenas com o nome da mãe na Certidão de Nascimento, indicando um aumento no número de mulheres que criam seus filhos e filhas sozinhas.

 

Essa tendência no crescimento é um reflexo da própria estruturação da sociedade, que ainda impõe à mulher a necessidade de ser mãe e de vivenciar a maternidade. Não é dado à mulher o direito dela escolher se quer ou não ser mãe, isto é imposto. Socialmente a mulher deve ser mãe.

 

No entanto, isto não acontece com o homem que, mesmo quando gera um filho, é permitido, perante os olhos da sociedade, se ausentar sem que haja julgamentos. A nossa sociedade autoriza o homem a se ausentar, a não escrever seu nome de pai, diferentemente da mãe.

 

Você concorda? Qual a sua opinião?

 

Mãe solteira, mãe solo é apenas mais um rótulo? A necessidade de ser mãe e de vivenciar a maternidade é mais uma imposição social, pois não é dado à mulher o direito dela escolher se quer ou não ser mãe? As mulheres, realmente, estão desejando assumir a maternidade de forma autônoma, sem a necessidade de um relacionamento?

 

 

Um abraço para todos.

Ana Brocanelo – Advogada.

OAB/SP:176.438

Fonte: Jornal da USP. “Vincular a maternidade ao Estado Civil pode ser depreciativo para as mulheres‘. Por Ana Beatriz Fogaça. Publicado sob licença CC BY 4.0.

Mais Posts

Madrastas também podem ser chamadas de mãe?

Amor, insegurança, conquista de espaço – ser madrasta é muito mais complexo do que parece. No Dia das Mães, essa reflexão vai além das flores e do parabéns formal: fala de vínculos reais, desafios emocionais e direitos legais que poucas conhecem. Quer saber mais sobre os desafios e os direitos das madrastas? Leia nosso artigo completo.

A Madrasta Deve Pagar Pensão Alimentícia ao Enteado?

A responsabilidade da madrasta pela pensão alimentícia do enteado gera dúvidas jurídicas e sociais. Embora a legislação brasileira não determine essa obrigação, em alguns casos, a relação socioafetiva pode influenciar decisões judiciais. Quer entender melhor como esse tema é tratado na legislação? Confira nosso artigo e descubra mais sobre os critérios adotados nos tribunais!

A série Adolescência aos olhos do Direito Civil

Já imaginou como o Direito Civil aborda a responsabilidade dos pais por atos de seus filhos menores? No artigo, exploramos o impacto da legislação brasileira à luz da série “Adolescência”, discutindo deveres familiares e formação cidadã. Acesse o conteúdo e entenda as implicações legais e reflexões sobre educação e convivência familiar.

Deixe sua mensagem